Nas nuvens com Pedrinho
Meu carro tem nome, minha máquina de lavar e minha máquina fotográfica. Meu celular também tem nome: chama-se Pedrinho, ele é contemporâneo assim como minhas novas relações sociais. “Isso fala?” Responderia a Pedro II, grande amor da minha vida, que isto fala, envia mensagem de texto e imagem, filma, fotografa, calcula, agenda: o que diria Pedro sobre isso?
Desespero-me quando a amiga Lourdes cria mais um grupo no WhatsApp. Dia desses avisei aos amigos do grupo que eu realmente os amo, mas preciso abandoná-los, pois a bateria do meu celular deve durar até que eu pague a última prestação do aparelho.
A relação com meu celular tornou-se tão intensa que entrei em pânico o dia em que o perdi no trabalho. Fiquei gelada só de pensar na possibilidade de viver sem Pedrinho: TRAVEI. Uma amiga, vendo o meu desespero perguntou se eu já havia enviado as informações armazenadas para a “nuvem”, não enviei nada porque ainda não havia aprendido chegar às nuvens, devo ter pulado algum capítulo na modernidade.
Imagine só: meu namorado virtual me chamaria no WhatsApp e eu não receberia as suas mensagens até que providenciasse um novo aparelho e outro chip, isso poderia demorar dias. Meu bem era muito reservado, morava dentro do meu celular e jamais saiu lá de dentro, nem pra me encontrar. Seria o fim de algo que nem mesmo começou. Nosso frágil relacionamento não suportaria dias sem uma mensagem ou um sinal de fumaça. A essa altura já pensava em apelar para o bom e velho e-mail.
Enfim encontrei Pedrinho na estante da minha sala de trabalho (ufa!), mas o meu namorado virtual nunca mais me enviou nenhuma mensagem, foi embora sem dizer adeus: dust in the wind. Quanto ao namorado virtual eu jamais saberei, mas Pedrinho me ama, com certeza!
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sexta-feira, 4 de setembro de 2015
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
Central do Brasil, RJ 2015 |
Caridade é amar
Almoçar com o amigo Sucena é sempre
uma enorme alegria, mas também oportunidade. Sua paciência e espírito fraterno,
em longos diálogos, nos permitem pensar e repensar sobre temas às vezes
esquecidos. Num dia desses conversávamos sobre mágoa, perdão e caridade. Então
ele parou a conversa e registrou no Facebook uma de nossas conclusões, enquanto eu registrava mentalmente em forma de crônica:
Muitas vezes somos tomados de enorme
piedade daqueles que passam pelas mazelas do mundo, tecemos comentários e
opiniões a respeito disso e daquilo, conjecturando as causas e apontamos os
culpados pela desgraça do mundo. Fome, doença, injustiça, violência,
abandono...
Por cidadania ou por piedade,
empreendemos esforços no sentido de minimizar a dor do próximo. Nesse
exercício, seja qual for a motivação, nos desprendemos de nossas sobras:
abrimos mão do pesado cobertor cheirando a guardado desde o último rigoroso
inverno do Rio de Janeiro; aquela peça de roupa de quando tínhamos 20 Kg a
menos, mas finalmente nos convencemos que jamais retornaremos ao corpo da
adolescência; a toalha de banho manchada de alvejante; a panela sem cabo.
Doar o que nos sobra é excelente e
importante passo, no entanto, se refletirmos um pouco além, percebemos que
ainda é pouco diante do tanto que recebemos: amparo, abraços, o sol que se
levanta e se põe diariamente. Convictos da necessidade da evolução moral,
doamos além do que sobra, doamos nosso bem maior, o AMOR, investindo nosso
tempo e energia em favor do outro.
Mas não apenas quando tempo for
propício, afinal não somos nós quem determinamos quando e quanto o outro
necessita, é a necessidade do outro; não somos nós quem determinamos se o outro
precisa de pão ou de abraço, é a necessidade do outro.
Precisamos aprender então a doar ao
outro o que o outro precisa e quando precisa, sem esperar com isso retribuição,
recompensa ou gratidão, porque só damos um pouco daquilo que temos e daquilo
que somos. E isso sim nos fará felizes!
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
Petrópolis 2015 |
Medo de chuva
Ele chegou ao final da tarde, usava
um sobretudo azul escuro com cachecol e trazia uma pequena mala em suas mãos.
Era mais alto do que eu havia imaginado, um belo moço assim mesmo, mas isso não
era importante.
Aguardava ansiosamente a sua visita.
Convidei-o para entrar, insisti acredito que por três ou quatro vezes. Ele
preferiu permanecer na varanda, mas aceitou se sentar em minha companhia. A
conversa era agradável, como houvera sido todas as conversas que tivemos à
distância, anteriormente. Às vezes, eu me perdia no assunto porque olhava
contemplativa sem acreditar na sua presença, eu havia me apaixonado por sua
inteligência e elegância.
Em sua bagagem trazia muitos projetos,
expectativas, pouca mágoa, porém muita inquietação com o que não conseguia
compreender e indignação com as coisas deste mundo. O que mais pesava, no
entanto, era a saudade. Tinha também muita ciência para ser compartilhada e uma
poesia, que trazia de longe para me ofertar.
Percebi que o céu havia escurecido.
Que horas seriam? Teria o tempo passado
tão depressa? Ele apressou-se em despedir-se adivinhando a chuva que se
aproximava. Disse-me que voltaria, mas não saberia precisar quando. O motivo de sua súbita partida? Que chuva que
nada, temia que a afeição por mim só fizesse aumentar a saudade que carregava.
O tempo passou, escorreu pelo
telhado e inundou o chão, penetrou no solo, tal como a chuva. Retirei a fita do
cabelo e fechei as janelas. Já era noite em minha vida.
_ Boa noite, durma bem. Sonhe com os anjos! Espero-te amanhã e depois também!
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Pão de Açúcar, RJ 2015 |
Engrenagens
Lembro-me bem do meu pai
fazendo o seguinte comentário: “minha filha é esforçada, mas é muito burra,
coitada!” Passei grande parte da minha vida tentando provar-lhe o contrário. Não
ouvia com mágoa não, e agora até acho graça da constatação do meu preocupado e
bem intencionado pai. De fato havia algo de errado comigo, aprender era difícil
demais, coisas simples são ainda hoje por mim realizadas com enorme esforço.
Já convicta da razão do meu
velho pai, quase desistindo da contraprova, um dia compreendi que eu tinha um
transtorno de aprendizagem. Aprendi a lidar com minhas dificuldades e
limitações, respeitando-as e amando-as até que eu me sinta pronta para superá-las.
Centro Cultural dos Correios RJ 2015 |
É difícil aprender novas
linguagens, ler um romance, tudo que é abstrato demais, compreender ordens
complexas, novos processos, aprender a dirigir... É difícil escrever!
Minhas novas conquistas me deixam feliz comigo mesma e animada para
superar novos desafios e sei que meu querido pai, que não teve tempo de perceber
antes de partir, também ficaria feliz.
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
CCBB, RJ 2015 |
A escola espiral
A escola não é apenas um lugar para aprender História, Matemática e outros conteúdos. Escola é lugar do Ser integral desenvolver seus talentos, através do exercício, com direito a errar e tentar novamente; é lugar de experimentar e buscar solução para os problemas que se apresentam, sejam eles de Química ou Física, ou de convivência; escola é lugar de conflito, porque paz não é vestir-se de branco e conflito não significa guerra; escola é lugar de aprender, de ensinar e de fazer amigos.
Em uma sala de espera , eu ouvi o seguinte comentário de uma senhora, indignada com a atual educação brasileira: " Na minha época , sabíamos todas as capitais do mundo e todos os afluentes do rio Amazonas”. Eu disse-lhe que não concordava e que estou apaixonada pelos novos rumos propostos para a Educação nesse momento. Quase apanhei, literalmente.
Não sei avaliar ao certo se isso é fundamental num mundo com tantas informações despejadas em tempo real, por segundo, na web. Nem digo que não seja importante saber da existência do longo e caudaloso Rio Amazonas, mas de nada valerá se eu não souber transformar a informação em conhecimento e utilizá-la em minha vida , se necessário.
Dizer que “está tudo bem, obrigada” seria cegueira ou falta de senso crítico. Diria que “está tudo na mais perfeita desordem, a caminho, em construção”. Afinal, mudança é processo. Por fim, se nos unirmos em prol de nós mesmos apertaremos o passo em direção à “contemporaneidade” na educação. Então descobriremos que o final nem existe. A educação é parte do processo de transformação constante da sociedade e, como tal não é círculo, é espiral.
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
domingo, 2 de agosto de 2015
São Lourenço, MG 2015 |
Alguns dias
recebi o e-mail dele com a tão esperada proposta: “o que acha de nos
encontrarmos?” Não consegui respondê-lo imediatamente . Fiquei pensando sobre o
assunto por algum tempo. Justo eu que
tanto insisti em olhar pelas janelas da alma e desvendar seus mistérios, já não
tinha tanta certeza. Eu havia me acostumado com a virtualidade do sentimento.
Concretizar aquele encontro seria um risco de perder o pouco que tinha. As
dúvidas contaminavam meu sangue e cada célula do meu corpo tremia de medo. E se
aquele encontro fosse somente o fim de algo que nunca teve início? E se... eram
tantos “e se”!
Nestes
últimos meses tão importantes e decisivos em minha vida, pude contar com sua
presença e seu carinho. Ele, mesmo distante, ajudou em meu processo de
redescoberta e reconstrução. Jamais me deu motivos ou disse algo que pudesse
causar expectativas, mas mesmo assim as tive, por conta própria, porque é assim
que as coisas acontecem.
Dediquei a
ele minhas canções mais preciosas, mais do que a qualquer outra pessoa que tenha
conhecido. Estas canções remetiam minha memória às histórias que eu mesma
construíra, eram todas suas e a mais ninguém poderiam ser dedicadas. E todo bem
que ele me fez jamais poderei retribuir.
Quando enfim
consegui responder ao convite, disse-lhe que seria um enorme prazer conhecê-lo.
“Conhecer-me? Já nos conhecemos!” disse ele. Isso é meia verdade. Longas e
agradáveis horas ao telefone daria tempo para irmos ao encontro um do outro,
mas esta era uma aproximação de conquista e não de sedução, e foi isso que
tornou esta relação encantada. Ainda faltava o olhar, mas e se...
Eu cheguei
minutos antes ao encontro marcado, sentei-me em um banco e iniciei uma leitura
tentando distrair o coração. Às vezes levantava os olhos buscando encontrá-lo,
nem sei quantas vezes repeti este movimento. Ao vê-lo parado em minha frente,
levantei-me lentamente deixando o livro sentar-se no banco em meu lugar.
Permanecíamos imóveis, mantida a distância entre nós, os olhos se encontraram
enquanto uma música de Bach letrada por Flávio Venturini insistia em tocar em
minha mente.
Bem, sobre o
encontro só posso dizer agora que encerrava um delicioso capítulo da minha
vida, em que muitas vezes, ele me fez companhia sem nem saber que comigo
estava, só na minha imaginação. Pensei, mas o tempo não parou para que eu lhe
dissesse: “Não fique só, nunca. Fique comigo, sempre.” As imagens se diluíram no
espaço. Acordei então.
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