Ai meu
Deus, de repente uma terrível dor, assim: do nada! Do pescoço, irradia pelo
braço esquerdo até o cotovelo. Era tanta dor, que não hesitei em consultar o
Dr. Web. Na busca: “dor braço esquerdo sintoma”. Era melhor nem saber. O
diagnóstico foi terrível, me fez tremer!
Deitei-me na
cama, segurando o cotovelo, quase morta de dó de mim mesma: tão moça. Como
poderia eu partir para o outro mundo, assim tão jovem! Em instantes a vida
passou pelos meus olhos, como um filme bom.
Muitos
amigos eu fiz. Sentiriam a minha falta? Uns sim; outros nem tanto. Sem falsa
modéstia, sei que faria falta ao mundo, nem tanto pelas minhas boas obras,
porém muito mais por tudo que ficou por fazer.
Tenho uma
pequena dívida, pagável, eu acho! Não tenho imóveis ou joias raras. Não deixo
animal de estimação. Deixo muitos sonhos, ideias, desejos, muitas histórias,
uma árvore, um livro e duas filhas. Deixo também fotografias, discos, livros,
vitrola, um piano (que não toca mais), uma máquina de costura de manivela,
ferro de passar a carvão, máquina de escrever, oito máquinas fotográficas
analógicas. Quem vai querer?
Lembrei-me
do meu amor. Ah, isso não é justo! Logo agora que encontrei o grande amor da
minha vida! Já reservei um pacote de viagem em lua de mel, mas o noivo sequer
foi comunicado da condição do noivado, ainda nem me declarei.
Não fui a
Buenos Aires, nem a Paris!
Dei um pulo
da cama. Tá decidido: a morte terá que ser adiada. Não, não posso partir! Tenho
compromissos. Ainda bem que se tratava apenas de contratura muscular!
Por: Gisele
Nunes (23/10/2017)