segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Pão de Açúcar, RJ 2015

Engrenagens

Lembro-me bem do meu pai fazendo o seguinte comentário: “minha filha é esforçada, mas é muito burra, coitada!” Passei grande parte da minha vida tentando provar-lhe o contrário. Não ouvia com mágoa não, e agora até acho graça da constatação do meu preocupado e bem intencionado pai. De fato havia algo de errado comigo, aprender era difícil demais, coisas simples são ainda hoje por mim realizadas com enorme esforço.

Já convicta da razão do meu velho pai, quase desistindo da contraprova, um dia compreendi que eu tinha um transtorno de aprendizagem. Aprendi a lidar com minhas dificuldades e limitações, respeitando-as e amando-as até que eu me sinta pronta para superá-las.

Centro Cultural dos Correios RJ 2015
Eu sou educadora e utilizo o autoconhecimento em meu ofício. Assim como nunca esperei e não tive quem abrisse o meu casulo, também nunca usei minha dificuldade como desculpa para deixar de realizar tarefas assumidas. Sou muito exigente comigo mesma, a grande diferença é que hoje, consciente dos desdobramentos de ter nascido deste jeitinho, me dou o direito de errar, caminhando sempre num ritmo possível. Sou exigente também com meus alunos, mas compreendo suas dificuldades, seus medos e até suas tentativas de fuga, sem contudo permitir a inércia.

É difícil aprender novas linguagens, ler um romance, tudo que é abstrato demais, compreender ordens complexas, novos processos, aprender a dirigir... É difícil escrever!

Sou uma engrenagem faltando peça, mas sinceramente disposta a ser útil.

Minhas novas conquistas me deixam feliz comigo mesma e animada para superar novos desafios e sei que meu querido pai, que não teve tempo de perceber antes de partir, também ficaria feliz.  

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