O whatsApp chamou, Lu
me perguntava cerca de três vezes ao dia se eu queria um beijo, melhor ainda:
se eu queria beijá-lo. Por dias fiquei pensando naquela proposta: um beijo a
essa altura, já estou no outono da vida, eu não sei mais que roupa vestir numa
ocasião como essa, nem sei se ainda sei beijar. “Como assim? Claro que sabe! É
como andar de bicicleta” disse-me ele, diante da minha recusa, mas Lu é
ciclista e eu mal sei dirigir meus sapatos.
Não mais o assovio do
whatsApp, o toque do telefone: “onde exatamente você está?” As pessoas sempre
me perguntam isso e eu sempre respondo: “perdida, ora essa, como sempre”, e é
nessa hora que preciso explicar que quando digo que sou transtornada é porque
de fato tenho um transtorno, nunca sei onde estou, pra onde vou ou chegar duas
vezes no mesmo lugar, mas sei muito bem o que quero, onde quero chegar, aquilo
que acredito, conheço minhas dificuldades e limitações (as respeito ou as supero), meus sonhos, projetos e minhas possibilidades.
“Na Urca”, até o
cenário já estava montado, o figurino nem importava muito, os atores já cientes
de seus papéis e seus textos passados e repassados: tudo pronto para o grande
evento. Eu: batom Brigitte Bardot, sandálias leves para bailar e rosto
publicano, a cobrar os beijos prometidos (digo beijos, pois contabilizei cada
beijo prometido). Ele: mãos nos bolsos, jeito de menino e olhar de rapina.
“Lu, quero agora o que
me prometeu!” e ele prontamente cumpriu com sua promessa. Falamos um pouco
sobre nossas vidas, caminhamos de mãos dadas e vimos juntos o sol se pôr. Antes
de nos despedirmos, eu que nunca sei onde estou, mas sempre sei onde quero
chegar, perguntei “Lu, você quer casar comigo?”
Lu quer casar comigo,
mas ainda não sabe disso!