domingo, 2 de agosto de 2015

São Lourenço, MG 2015
Janelas da alma

Alguns dias recebi o e-mail dele com a tão esperada proposta: “o que acha de nos encontrarmos?” Não consegui respondê-lo imediatamente . Fiquei pensando sobre o assunto por algum tempo.  Justo eu que tanto insisti em olhar pelas janelas da alma e desvendar seus mistérios, já não tinha tanta certeza. Eu havia me acostumado com a virtualidade do sentimento. Concretizar aquele encontro seria um risco de perder o pouco que tinha. As dúvidas contaminavam meu sangue e cada célula do meu corpo tremia de medo. E se aquele encontro fosse somente o fim de algo que nunca teve início? E se... eram tantos “e se”!

Nestes últimos meses tão importantes e decisivos em minha vida, pude contar com sua presença e seu carinho. Ele, mesmo distante, ajudou em meu processo de redescoberta e reconstrução. Jamais me deu motivos ou disse algo que pudesse causar expectativas, mas mesmo assim as tive, por conta própria, porque é assim que as coisas acontecem.

Dediquei a ele minhas canções mais preciosas, mais do que a qualquer outra pessoa que tenha conhecido. Estas canções remetiam minha memória às histórias que eu mesma construíra, eram todas suas e a mais ninguém poderiam ser dedicadas. E todo bem que ele me fez jamais poderei retribuir.

Quando enfim consegui responder ao convite, disse-lhe que seria um enorme prazer conhecê-lo. “Conhecer-me? Já nos conhecemos!” disse ele. Isso é meia verdade. Longas e agradáveis horas ao telefone daria tempo para irmos ao encontro um do outro, mas esta era uma aproximação de conquista e não de sedução, e foi isso que tornou esta relação encantada. Ainda faltava o olhar, mas e se...

Eu cheguei minutos antes ao encontro marcado, sentei-me em um banco e iniciei uma leitura tentando distrair o coração. Às vezes levantava os olhos buscando encontrá-lo, nem sei quantas vezes repeti este movimento. Ao vê-lo parado em minha frente, levantei-me lentamente deixando o livro sentar-se no banco em meu lugar. Permanecíamos imóveis, mantida a distância entre nós, os olhos se encontraram enquanto uma música de Bach letrada por Flávio Venturini insistia em tocar em minha mente.


Bem, sobre o encontro só posso dizer agora que encerrava um delicioso capítulo da minha vida, em que muitas vezes, ele me fez companhia sem nem saber que comigo estava, só na minha imaginação. Pensei, mas o tempo não parou para que eu lhe dissesse: “Não fique só, nunca. Fique comigo, sempre.” As imagens se diluíram no espaço. Acordei então.

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