segunda-feira, 30 de novembro de 2015



Melancolia não é tristeza, 
e não precisa ser triste! 
Melancolia não é solidão.

É uma imensa saudade que sentimos no fundo de nossa alma, 
às vezes nem sabemos precisar de quê ou de quem. 

Tenho enorme saudade de um grande amor que não conheci! 


Melancolia é espera.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Final feliz

Rebeldia da Helena

Minha pequena Helena sempre revisa meus textos. Encerrada uma nova crônica chamei-a para fazer a revisão. Leu com o cuidado e o carinho costumeiros, pelo caminho da leitura ia corrigindo a pontuação. A história tinha apenas dois personagens: um moço com ar de formalidade e uma menina decididamente apaixonada.

Helena chegou ao final da leitura e disse não ter entendido.  Releu a história. O final era sutil, deixando livre a interpretação ao leitor. Na condição de autora, para mim estava muito claro: a menina morria no final. 

Dizia a história que anoitecia, ela dormiria para sempre, cansada de tanto esperar a volta de seu grande amor. Não era qualquer desfecho de vida e nem havia morrido de amor, era uma morte sublime. Seu coração estava repleto e preenchido, envelheceu e simplesmente partiu sem dor ou agonia, ainda que solitária.

Fofura aparente!
_ Como assim, “caaaara”. Na moral, como “tu” termina uma história desse jeito? Que absurdo!!! Não vou corrigir, não vou corrigir mais nada! Não me chame mais.

Eu gosto de filme triste porque prefiro chorar com a ficção!

Mas a minha pequena revisora, num ato de pura rebeldia e subversão, me fez mudar o final da história. Manda quem pode, obedece quem tem juízo: eu nunca sei onde coloco as vírgulas, uso todas as reticências do mundo e dez pontos de exclamação. Então, terminei a história dizendo: 

_ Boa noite, meu bem. Durma com anjos! Espero-te amanhã e depois também!


_ Ahhh, agora sim!


Medo de Chuva

Petrópolis 2015

Ele chegou ao final da tarde, usava um sobretudo azul escuro com cachecol e trazia uma pequena mala em suas mãos. Era mais alto do que eu havia imaginado, um belo moço assim mesmo, mas isso não era importante.

Aguardava ansiosamente a sua visita. Convidei-o para entrar, insisti acredito que por três ou quatro vezes. Ele preferiu permanecer na varanda, mas aceitou se sentar em minha companhia. A conversa era agradável, como houvera sido todas as conversas que tivemos à distância, anteriormente. Às vezes, eu me perdia no assunto porque olhava contemplativa sem acreditar na sua presença, eu havia me apaixonado por sua inteligência e elegância.

Em sua bagagem trazia muitos projetos, expectativas, pouca mágoa, porém muita inquietação com o que não conseguia compreender e indignação com as coisas deste mundo. O que mais pesava, no entanto, era a saudade. Tinha também muita ciência para ser compartilhada e uma poesia, que trazia de longe para me ofertar.

Percebi que o céu havia escurecido. Que horas seriam?  Teria o tempo passado tão depressa? Ele apressou-se em despedir-se adivinhando a chuva que se aproximava. Disse-me que voltaria, mas não saberia precisar quando.  O motivo de sua súbita partida? Que chuva que nada, temia que a afeição por mim só fizesse aumentar a saudade que carregava.

O tempo passou, escorreu pelo telhado e inundou o chão, penetrou no solo, tal como a chuva. Retirei a fita do cabelo e fechei as janelas. Já era noite em minha vida.



_ Boa noite, durma bem. Sonhe com os anjos! Espero-te amanhã e depois também!


Nota: Agradeço ao amigo Marcelo, que embora distante e recente, sempre perto do coração, disse-me que eu era capaz... Este texto é dedicado a essa linda pessoa, tão especial e que tantas vezes compartilhou comigo seus saberes!

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Cantiga para HeleBia



Minhas filhas são adoráveis, a começar pelo amor incondicional que elas me têm, apesar deste meu jeitinho esquecido de ser!

Perder-me nos lugares não é dúvida: é certeza. Noutro dia eu e as minhas meninas queríamos ir à Praia Vermelha, eu na direção do carro. Depois de me perder duas vezes tentando achar o caminho chegamos à Ipanema. Ah, tudo bem, é praia também.

Ter mãe transtornada é assim, não existe essa coisa de querer ir a algum lugar, a gente chega onde consegue chegar. Nunca sei a diferença entre esquerda e direita, iPod e iPad e assim por diante. Eu sempre esqueço o nome de coisas muito simples:

_ Como é mesmo o nome daquele negócio que a gente joga o macarrão depois que fica pronto?

_ Escorredor de macarrão, mãe! 



_ É isso! Obrigada, querida. Pega pra mamãe, por favor.


Um dia perdi a Beatriz na praça. Tinha uma apresentação circense e paramos para ver, ela tinha pouco mais de um metro e eu podia vê-la na minha frente com minha visão periférica enquanto conversava com minha cunhada. De repente não mais a vi. Comecei a gritar e correr pela praça, mobilizei toda a família em busca da criança. Roubei a cena: os espectadores do circo já me olhavam querendo saber o que estava acontecendo. Até que alguém disse:

_ A menina está aqui!

_ Onde?

Onde!?! No mesmo lugar em que eu a deixei, ela apenas havia se sentado, e continuava entretida com a apresentação.

Mas o pior foi o dia em que esqueci o nome da minha filha mais nova. Uma amiga me encontrou na rua quando estava a caminho do pediatra para uma consulta de rotina.

_ Lindo bebê, é uma menina, não é?


_ Sim! (E disso eu não tive a menor dúvida)



_ E como é o nome dela?


Eu olhava para a pessoa, depois para o bebê em meus braços, novamente para a pessoa, e para o bebê... um branco em minha mente, vazio total. Desesperador. Não conseguia lembrar o nome da pequena criatura. Só tinha uma semana em minha vida, a anestesia ainda entorpecida minha mente, já não sabia mais o que dizer pra mim mesma, nem que desculpas iriam me desculpar? Por fim, eu disse constrangida:

_ Eu não me lembro!

Helena é o seu nome, lindo nome, linda menina. Seu nome é uma canção muito especial para mim (Helena – Byafra), embora ela goste de pensar que é a homenagem à Helena de Tróia, a mais linda mulher já nascida no planeta em todos os tempos, motivo de disputa entre Menelau e Páris. Então se apresenta aonde chega, a despeito de toda essa história, com personalidade e ousadia: não sou Nena, não sou Leninha, meu nome é HELENA.



Elas são companheiras de viagem, lindas por dentro e por fora, as melhores. E já me prometeram que quando a melhor idade chegar, serão minhas mães, não me perderão na praça nem esquecerão meu nome. Que bom!

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Vida Maria

Newton Nunes, Natalina Bilate, Josefina Bilate e Maria dos Anjos (minha doce e adorada avó)

Existem muitas Marias em mim
Em cada Maria muitas histórias
Em cada história uma vida
Vida  Maria.

Lá vai, lá vai Maria, pelo mundo outra vez
Tentando de novo ser Maria.

Fui Maria menina, menina doce e moleca,
que brincou de panela e boneca,
subiu em árvore e perna de pau,
bola de gude e quartel general.

Fui Maria moça, moça ousada e levada,
em teatro de comédia,
do absurdo à tragédia, 
subvertendo a ordem
em show de banda de rock.

Fui Maria mulher, dedicada e amiga, 
Maria sagrada, Maria profana.
Maria da vó, da mãe e das filhas
Sou Maria de mim mesma.
Maria que roeu a corda e enfrentou enchente,

Todas as Marias ainda vivem em mim
Sou eu mais que a soma das partes
Sou Maria dos Anjos, Maria das Dores, Maria das Artes.

Maria, nem é meu por batismo
Mas tomo emprestado de todas as Marias
Assim me apresento a quem me é apresentado.
Em cantigas, em versos ou prosa
Não nego a luta nem fujo à prova. 
Me lanço na aventura e corro mundo afora
Me afirmando Maria ontem e agora.

Existem muitas Marias em mim
Em cada Maria muitas histórias
Em cada história uma vida
Vida  Maria.

Lá vai, lá vai Maria, pelo mundo 

Tentando ser Maria outra vez.