Que pente que te penteia? Cabelo de Bombril, cabelo de piaçava... cabelo ruim!
Ah, ruim é não ter cabelo. (EU)
Sei não, no seu caso... era melhor ser careca!
Eu já ouvi de tudo e tudo tão ruim quanto ao aspecto estranhamente alvoraçado dos meus cabelos. Se eles pudessem ouvir, entrariam em depressão profunda! É bem verdade que eles apresentam comportamento inadequado às vezes, gostam de pregar peça e assustar as pessoas pela manhã e nem sempre me obedecem. Já tivemos dias de luta e dias de glória.
Assim como os meus cabelos, eu tenho uma personalidade expansiva do tipo “me ame ou me odeie”. Na escola a galera do “me odeie” não perdoava: meus cabelos eram motivo de deboche e piada. Minha “amiga” de classe perguntou-me uma vez:
_ Quando chove molha o seu rosto?
Maldita a hora que meu olhar denunciou a tentativa de entender a pergunta a fim de respondê-la. A "amiga" se antecipou:
_É porque percebi que sua franja é uma marquise (risos)!
Putz, eu não achei graça. Ah, esses adolescentes são cruéis!
Eu usei de tudo que me indicaram: banana sem semente com mel, abacate, babosa e maionese. Maionese? Pois é, não foi uma boa dica: fiquei uma semana sem sair de casa para não ofender o olfato de amigos. Nada resolveu. Indisciplinados, os mais de 200.000 fios de cabelos que moram na minha cabeça passaram a andar armados e por isso foram presos sem direito a habeas corpus.
As coisas pioraram consideravelmente, os fios e eu passamos a utilizar drogas fortíssimas como formol e seus derivados. De usuários eventuais à dependência total, o prazer era todo meu. Já não ouvia ridículas piadas. Além do mais era só acordar e ir, simples assim. Mas depois de alguns anos eles se entregaram e as pontas duplas evidenciavam uma overdose.
Encontro-me agora em processo de desintoxicação, transição capilar. Nada será como antes, já dizia o meu amigo mineiro! Sou liberta das amarras, de todos os grampos e elásticos que me prenderam, de todas as tolices que ouvi, feliz com os meus cachos indefinidos!
Cabelo ruim? Que nada, ruim não é o que está na minha cabeça, ruim mesmo é o que sai da boca, é o que vai dentro da cabeça e do coração de algumas pessoas.
Por: Gisele Nunes
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