sexta-feira, 17 de março de 2017

VIDA MARIA



Existem muitas Marias em mim
Em cada Maria, muitas histórias
Em cada história, uma vida
Vida Maria.

Lá vai, lá vai Maria, pelo mundo outra vez
Tentando de novo ser Maria.

Fui Maria menina, menina doce e moleca,
que brinca de panela e boneca,
subiu em árvore e correu com perna de pau,
bola de gude e quartel general.

Fui Maria moça, moça ousada e levada,
em teatro de comédia,
do absurdo da vida à tragédia,
subvertendo a ordem
em show de banda de rock.

Fui Maria mulher, dedicada e amiga,
Maria sagrada, Maria profana.
Maria da vó, da mãe e das filhas
Sou Maria de mim mesma.
Maria que roeu a corda e que enfrentou enchente,

Todas as Marias ainda vivem em mim
Sou eu mais que a soma das partes
Sou eu Maria dos Anjos, Maria das Dores, Maria das Artes.

Maria, que nem é meu por batismo,
Mas tomo emprestado de todas as Marias do mundo
Assim, me apresento a quem me é apresentado.
Em cantigas, em versos ou prosa
Não nego a luta nem fujo à prova.
Me lanço na aventura e corro mundo afora
Me afirmando Maria, ontem e agora.

Existem muitas Marias em mim
Em cada Maria, muitas histórias
Em cada história, uma vida
Vida Maria.

Lá vai, lá vai Maria, pelo mundo

Tentando ser Maria outra vez.

Por: Gisele Nunes

domingo, 5 de março de 2017

Silêncio meu




Quero escrever aqui e agora, e vou falar depois, sobre o silêncio meu! Não me refiro ao silêncio dos sábios, mas também não falo sobre a palavra dos maledicentes. Preciso, é urgente, aprender a silenciar e encontrar a palavra que apenas constrói, edifica, esclarece.

Meu pensamento é vulcão e minha respiração ventania. Sou como furacão entre cidades pela força do que acredito e digo, despejo, vomito. Imagino e respondo até o que nunca ouvi, mas pensei ter ouvido. Minha imaginação é tsunami de mim mesma.

Digo bem alto aquilo que deveria ter calado. Não temo a multidão, falo em público, publico para o mundo o que sinto, o que sei e o que não sei. Da minha vida, nada há que se oculte.

Sim, sou desastrada com as palavras, confesso. Já magoei pessoas queridas, matei sonhos, destruí projetos, afastei o ser amado, fechei portas e janelas. Palavras mal ditas são aquelas que se diz no momento errado, para a pessoa errada, ainda que tenha que ser dita.

Exercitar o silêncio não é tarefa simples: exige bom senso, sensibilidade, sabedoria.

Bem ditas sejam as palavras que se desenham em minhas mãos e que saem da minha boca. Bendita seja a palavra!

Por: Gisele Nunes

quarta-feira, 23 de março de 2016

Porta aberta

Casa França brasil - RJ 2016
Abri aporta do meu coração
Convidei você pra dançar
Adormeci saciada
Amanheci em espanto
Somente eu fui capaz
De sentir o encanto?

Cada qual com sua expectativa
Não vou lhe cobrar esta conta
Mas vou novamente convidar:
Quer me conduzir na contra dança?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Existem pessoas com alma de borboleta.

Ilha Grande - RJ 2016
Borboletas são inquietas:
Inquietude não significa inconstância, insatisfação ou infidelidade. Quem ama alguém com alma de borboleta não precisa ficar inseguro ou sentir-se enciumado. Sua aprendizagem se constrói a partir do contato com o mundo. Borboletas conhecem o seu jardim, sua casa, sua família, mas precisam interagir. Amam profundamente suas flores e sabem que elas são a sua razão de existir. 

Borboletas são alegres:
Adoram "borboletear", se estiverem sós serão absolutamente felizes, mas acompanhadas são capazes de promover um lindo espetáculo de Ballet.  

Borboletas são coloridas:
As borboletas recebem amorosas vibrações do criador para compartilharem com o mundo, colorindo o caminho. São coloridas, mas cada qual externando sua particular vibração: cada uma é única, o conjunto da obra constitui a diversidade. 

Eu tenho alma de borboleta! Borboleta azul em flores vermelhas.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016




Tem gosto pra tudo
Só não sei se tem jeito
Pra gosto como o meu
Eu prefiro sofrer de amor
Que não ter amor pra sofrer
O desamor é um vazio

É um oco e faz eco.

Meu amor foi embora
De tanto não ser correspondido
Morreu
Me perdoem os céticos
Estou de luto agora
Pelo amor que morreu ontem
Foi embora.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Homem Irracional

Quando se está verdadeiramente apaixonada, o mais importante é estar junto ou, ainda que distante do outro, estar conectado de alguma forma. Fico pensando, então, o que é pior para uma mulher apaixonada: ser abandonada na porta do altar ou na porta do cinema.

Gabriela ficou horas esperando para se casar, pois o noivo tomou um pileque na despedida de solteiro e quase teve um coma alcoólico. Mesmo assim apresentou-se com atraso, munido do comprovante de internação. Casaram-se.

Carolina, melhor amiga de Gabriela, conheceu um moço elegante num dia de agosto, inteligente e carinhoso, sempre muito atencioso, um lindo menino que a cativou. Foi numa noite fria de inverno que se encontraram quase ao acaso. Sua gentileza e sorriso aproximaram os seus corações. A chuva fina e o frio aproximaram os seus corpos. Marcaram então um cinema para a semana seguinte.

No dia marcado investiu algumas horas nos preparativos e no translado até o local marcado. A hora do filme se aproximava e ele não chegava. Ela, já inquieta, comprou os ingressos e depois a pipoca. Já chegava a um nível de ansiedade que comia a pipoca antes mesmo de entrar no cinema. Enfim chegou... Chegou uma mensagem no seu celular:
“Tive um imprevisto esta semana no meu trabalho, não conseguiria chegar a tempo.”

Como assim “um imprevisto esta semana?” Poderia ter avisado no dia anterior, até por telefone, pensou Carolina. Lembrou-se da amiga Gabriela e da história do seu casamento, tentou consolar seu coração, mas foi inevitável interpretar a mensagem subliminar:

“Eu não sabia bem se queria ir ao cinema com você, como estava aqui nessa dúvida e só agora decidi que realmente não quero, mas não sabia como dizer, eu aproveito o imprevisto pra ir embora. Por favor, não insista.” Assinado: imaginação da Carolina.

Sentou-se na rua, no meio fio em frente ao cinema, com o saco de pipocas nas mãos, chorava compulsivamente. Ligou pra amiga Gabriela que se comprometeu com o seu resgate, acabada e abandonada na porta do cinema. Em meia hora Gabriela chegou e se deparou com a cena: Carolina desfigurada, desolada e descabelada. Até o pipoqueiro fazia afagos e dizia que ia ficar tudo bem.

Gabriela, grande amiga, procurou ser razoável, dizia que isso acontece e que deveria ser compreensiva, que o motivo era plausível e logo ele se retrataria.

_ Amiga, eu investi meu sentimento, gastei horas me preparando para o encontro, fui ao salão fazer as unhas e depilação meia perna...

Gabriela interrompeu a fala da amiga descabelada e parou de tentar amenizar as coisas, partiu para o ataque:

_ Nunca desperdice a depilação de uma mulher! Pare de chorar por alguém que não te merece! E veja se da próxima vez que marcar algo com alguém marque o bom e tradicional barzinho.

Carolina apenas queria que percebesse que era ele o ator principal com direito a indicação ao Oscar, o filme era apenas o coadjuvante naquele encontro. Numa atitude adolescente, ligou pra ele dizendo-lhe que “é um homem irracional e insensível” e nem deu tempo para que respondesse. Bloqueou-o no celular, desfez a amizade no facebook, excluiu todas as mensagens e vestígios de sua passagem em sua vida. Do meteórico romance só restou essa crônica, nenhum filme será rodado. 

Nota: Homem Irracional, filme do gênero drama dirigido por Woody Allen, EUA - 2015.