terça-feira, 14 de julho de 2015

Piraí - RJ 2015

Janelas, portas e escadas

Se eu fosse uma casa seria uma casa pequena com grande quintal, cheio de árvores que oferecem frutas a quem passa. Teria grande jardim com folhagens e flores. Eu teria porão pra me proteger, varanda para abraçar e sótão pra guardar pequenas e preciosas lembranças. Gosto de portas, janelas e escadas porque são emblemáticas. Particularmente prefiro escadas que rangem, pois elas nos contam histórias.

Piraí - RJ 2015
Se eu fosse uma casa teria uma grande porta pra dizer o quanto amo as pessoas, mesmo que às vezes não saiba dizer ou fazer coisas que mostram o quanto de amor há em mim. Estaria sempre de portas abertas para receber a quem precisasse de amparo e abrigo. Teria muitas janelas, mais de uma janela por cômodo, para quem estivesse dentro pudesse perceber todo sol que há lá fora.

Se eu fosse uma casa a saudade conviveria em harmonia com a modernidade, não seria casa velha, seria casa antiga reformada. Eu teria muitas fotografias nas paredes da sala e dos quartos pra guardar lembranças dos amores e registros de dias felizes. Seria casa simples, aconchegante, porém vibrante e arejada, esperando sempre pela próxima reforma.

Por que não sou casa? Não sou casa porque sou nuvem. 

Mudo a direção, mudo a velocidade e a intensidade, mas não mudo minha essência de nuvem. Às vezes sou leve, outras vezes sou densa e intensa, então derreto, deságuo pra seguir viagem. Viajo, imagino, sonho, não paro... não sou casa, sou nuvem sem chão. 



           







sexta-feira, 26 de junho de 2015

Botafogo - Rio de Janeiro 2015

O beijo

O whatsApp chamou, Lu me perguntava cerca de três vezes ao dia se eu queria um beijo, melhor ainda: se eu queria beijá-lo. Por dias fiquei pensando naquela proposta: um beijo a essa altura, já estou no outono da vida, eu não sei mais que roupa vestir numa ocasião como essa, nem sei se ainda sei beijar. “Como assim? Claro que sabe! É como andar de bicicleta” disse-me ele, diante da minha recusa, mas Lu é ciclista e eu mal sei dirigir meus sapatos.

Não mais o assovio do whatsApp, o toque do telefone: “onde exatamente você está?” As pessoas sempre me perguntam isso e eu sempre respondo: “perdida, ora essa, como sempre”, e é nessa hora que preciso explicar que quando digo que sou transtornada é porque de fato tenho um transtorno, nunca sei onde estou, pra onde vou ou chegar duas vezes no mesmo lugar, mas sei muito bem o que quero, onde quero chegar, aquilo que acredito, conheço minhas dificuldades e limitações  (as respeito ou as supero), meus sonhos, projetos e minhas possibilidades.

“Na Urca”, até o cenário já estava montado, o figurino nem importava muito, os atores já cientes de seus papéis e seus textos passados e repassados: tudo pronto para o grande evento. Eu: batom Brigitte Bardot, sandálias leves para bailar e rosto publicano, a cobrar os beijos prometidos (digo beijos, pois contabilizei cada beijo prometido). Ele: mãos nos bolsos, jeito de menino e olhar de rapina.

“Lu, quero agora o que me prometeu!” e ele prontamente cumpriu com sua promessa. Falamos um pouco sobre nossas vidas, caminhamos de mãos dadas e vimos juntos o sol se pôr. Antes de nos despedirmos, eu que nunca sei onde estou, mas sempre sei onde quero chegar, perguntei “Lu, você quer casar comigo?”


Lu quer casar comigo, mas ainda não sabe disso!